Tive a sorte de passar muito tempo com eles. De ir comprar carcaças com o meu Avô P. logo pela manhã, de trazer também um "Bolicao"para o lanche, de passar na loja do Sr. Agostinho para 2 dedos de conversa, de ajuda-lo a preparar o almoço e ter atenção à quantidade de sal porque faz mal ao coração, de aprender a costurar, a fazer o meu prato favorito (até aos 10 anos): Peixe cozido com legumes. De passar horas a fingir que aprendia a fazer os nós de marinheiro (devia ter mesmo aprendido!!! estúpida!!!), de aprender o SOS em código Morse, e de deitar a cabeça no colo dele e dormir a sesta enquanto ele dormitava também.
O bom de ter pais que não tiravam férias (um fim de semana não são férias!) era passa-las com os Avós. Lembro-me que na altura tinha o "síndrome do ginásio". Não queria nada ir, mas depois de lá estar sentia-me lindamente.
A viagem de Renault 5 para o Algarve pela estrada nacional não podia ser mais castiça- tinha direito a paragem pelo caminho para almoçar à beira da estrada e tudo. Os dias eram tranquilos, passados com uma manhãzinha de praia, sestas e mais sestas pelo dia fora nas cadeiras de baloiço por baixo da figueira. Pelo meio ajudava a fazer doce de tomate e apanhava beldroegas para a sopa.
No Norte, com os avós paternos, o dia começava na ânsia de ouvir a buzina da carrinha do pão. Passava a manhã com o saco do pão a tira-colo... A avó L. , ainda viva e embora muito velhota, de boa saúde, fazia pegas em crochet para juntar à minha colecção. Colecção essa que ainda hoje tenho e embora nunca lhe tenha dado uso, continuo a divertir-me com as cores e formas das pegas cada vez que abro a gaveta e os meus olhos se perdem nelas.
O avô C. ensinou-me a fazer as letras maiúsculas na perfeição, a escrever dentro das linhas das folhas pautadas e a colher cenouras, escolher os melhores figos e entrar pelo galinheiro para recolher os ovos sem ser "atacada".
Com avó A. aprendi a lavar roupa à mão e a arrastar móveis sem precisar de ajuda nem riscar o chão ( o velhinho truque de pôr a toalha por baixo deles e toca de empurrar). Embalava-me com palmadinhas compassadas e um " ÓÓÓóóóóòÒÒÒ....."que hoje utilizo várias vezes para embalar o Baby F.
Fui muito feliz com os meus avós e gostava que o meu filho tivesse a mesma sorte.
Sorte de ser muito mimado pelos avós, de aprender coisas com eles, de passar com eles tempo de qualidade, e mais importante de tudo: de um dia quando eles já cá não estiverem, lembrar-se com ternura de todos os momentos que passou com eles, dar uso de todos os ensinamentos e que sentir que foi muito feliz junto deles.
" Os avós são as únicas pessoas que têm sempre tempo."
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