sexta-feira, 15 de março de 2013

Hoje, de volta à clínica porque agora sou eu que não me aguento nas canetas, assisti à cena mais embaraçosa e constrangedora pela qual uma mãe pode passar ( fora pingar das mamocas em público!).
Ainda não tinha entrado na clínica e já ouvia a criancinha aos berros.
" Eh lá, mas o que é que fizeram à criança?" Nada, aparentemente, mas ele chorava, berrava e a mãe tentava desesperadamente calá-lo e fazer o check-in ao mesmo tempo. Não estava a conseguir e cedeu o seu lugar na fila para se concentrar numa só tarefa. A criança berrava e berrava e estavamos todos claramente incomodados, mas é uma criança com 3 ou 4 anos...
Mais do que incomodada com os gritos eu estava com vergonha alheia. Muita vergonha alheia pela mãe daquele pequeno terror.
Nisto o impensável acontece, ouve -se um "Xiiiuuuuu, cale-me essa criança!" A sala ficou em silêncio. Até a criança se calou, por uns breves segundos. Um senhor, na casa dos 70 anos achou que era assim que se resolvia o problema. Não perguntando se podia ajudar, sugerindo fazer o check in à senhora enquanto ela tentava acalmar a criança, nada disso. Vamos berrar mais alto que a crianca e envergonhar a mãe mais um bocadinho porque ela ainda não se deve estar a sentir um cocó ambulante.
Eu nem quis acreditar. Seguiram-se as críticas ao senhor em questão, a indignação foi geral e claro, a criancinha desatou numa choradeira novamente. A mãe não abriu a boca, baixou a cabeça, foi direita à recepção e avisou que esperava na rua que a chamassem para a consulta. Entre dentes o senhor continuou a resmungar, todos comentavam a sua insensibilidade e eu ainda não tinha conseguido apanhar o queixo do chão.
Só me vinha à cabeça uma história do meu irmão, que sempre foi muito critico no que respeitava à educação dos filhos dos outros, e certo dia vê-se no meio do Shopping com a filha de 3 anos deitada no chão a gritar e a espernear. Ele tentou de tudo. Acho que até uma " palmada pública" dali saiu. Acabou a colocá-la ao ombro e fugiu dali, sempre com ela aos berros.
Às vezes não há mesmo nada que possamos fazer. Eles tem que acalmar o próprio corpo e mente sozinhos. A nossa intervenção só piora a situação.
A falta de tolerância daquele senhor incomodou-nos a todos, bem mais do que os berros da criança. Se fosse comigo eu teria respondido à letra, mas aí talvez perdesse a razão... É uma situação complicada mas que revela bem a falta de tolerância e paciência nos seres humanos e isso é uma coisa que me atormenta, cada vez mais.
Queremos acabar com o "barulho "dos outros, mas acho que em muitos casos, a maior gritaria está mesmo dentro da nossa cabeça e é essa que não suportamos. Não a birra de um puto de 3 anos.

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