quarta-feira, 19 de junho de 2013

Será que ela sabe?

Há amizades que nos marcam por uma vida inteira, mesmo que mudem, evoluam, retrocedam, acabem... 
Eu tenho uma assim mas infelizmente a vida afastou-nos, ou nós é que nos afastámos da vida uma da outra, não sei bem. 
Não significa que me esqueça dela, não a esqueço em muitos momentos da minha vida. Cada vez que o Rui Veloso canta na rádio, eu lembro-me de como sabíamos as letras de cor e as cantávamos aos gritos no carro, cada vez que faço combinações loucas de cor com a roupa lembro-me de como ela era incapaz de combinar verde com amarelo, ou roxo com laranja. Cada vez que vejo a imagem do principezinho algures lembro-me de como ela delirava com o livro de Antoine Saint-Exupéry, cada vez que abro a minha carteira a nossa foto tipo passe tirada na estação dos comboios está lá e faz-me sorrir. Quando vou de férias queria que ela viesse também, que conseguisse conciliar a agenda dela com a minha, que ela não tivesse mil empregos e um curso por acabar, um irmão que depende dela e que lhe ' rouba' o tempo... 
Eu queria tanto que ela fizesse parte da minha vida como fazia antes. Sinto tantas saudades. Tantas.  Até das coisas irritantes como chorar a ver o Pearl Harbor por causa da parte verídica da história, da parte do ataque e da maldade do Ser Humano, e não pela história de amor com encontros e desencontros. De demorar 30 minutos a tomar banho quando estamos atrasadas. De acordar a meio da noite com um pesadelo e querer telefonar à pessoa com quem sonhou às 3h da madrugada só para lhe perguntar se está tudo bem. 
Passámos a nossa adolescência juntas e talvez por ter sido nessa fase tão marcante da vida de uma rapariga, a nossa amizade foi intensa e também ela marcante. Vivi com ela as maiores maluqueiras, apanhámos as primeiras bebedeiras juntas, fumámos o primeiro cigarro juntas, passámos os primeiros fins-de-semana sozinhas em casa, chumbámos a disciplinas importantes juntas, estudámos para as repetir, conhecemos os nossos primeiros Amores de verdade, chorámos no ombro uma da outra, trocámos roupa, estragámos roupa uma da outra, passámos férias, Aniversários, Natais, Passagens de Ano ao lado uma da outra.  Fizemos uma viagem de finalistas absolutamente inesquecível onde estivemos perto de levar uma sova de um grupo de marroquinos, onde perdemos 5kgs e o nosso único pedido à minha mãe foi que tivesse Cerelac quando voltassemos para casa. Perdi a conta aos fins-de-semana que ela passou em minha casa, às temporadas, férias... Acordávamos, saltávamos pela janela directamente para a piscina e ali passávamos o dia agarradas aos bronzeadores, a fumar cigarros às escondidas e a falar dos nossos Amores e Desamores. 
Fizemos coisas estúpidas como mentir aos nossos pais para podermos passar uma noite inteira no 'Garage' a ver Jeff Mills, noite essa que acabou por ser um fiasco descomunal, passamos madrugadas a ver filmes e comer frascos de Nutella, leite condensado com banana...
Namorámos melhores amigos, tal como nós o éramos, o meu durou e ainda é o dono do meu coração, o dela não. 
Anos mais tarde ela entrou-me pela maternidade a dentro a chorar baba e ranho carregada de balões que trouxe de mota ( deve ter sido coisa gira de se ver) para ver o sobrinho. E não sei se ela sabe mas mesmo com tanta distância, ela é tão tia do meu filho como o meu irmão de sangue e como mais 2 grandes amigas que tenho.Mesmo. É assim que sinto. 
Será que já lhe disse vezes suficientes o quanto gosto dela? Será que ela sabe a falta que me faz? 





2 comentários:

  1. Uma amizade dessas tem que ser retomada, Di, sobretudo se não houve nada grave que vos separasse, apenas inércia e distanciamento natural...
    Liga-lhe, escreve-lhe, surpreende-a! Vais ficar mais feliz e, de certeza, ela também.

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